sábado, 30 de abril de 2011

O tempo se esvai descontínuo, vagaroso
Pequenas guinadas instantâneas e momentâneas
Nos roubam as horas, as manhãs, os dias e noites.
A vida se esvai em passadas lentas, em mudanças cíclicas,
Em instantes únicos, repetidamente vividos.

É o corpo que se molda....
A face que se enrijece,
As lembranças que se amontoam,
As escolhas que se rarefazem,
A alma já não se atormenta.

O belo que passa despercebido,
A música que já não tem mais sentido.
A voz do amor do passado
Que está agora casado
É apenas memória

O fim de tarde sublime de outrora,
É fumaça turva agora;
A solidão ocupa o peito,
A existência cintila parvamente,
O sol se põe novamente.

Doravante renasce, vigoroso,
Porém mais uma vela sua se apaga.
A praia estésica é apenas imagem impressa,
No porta-retratos na estante.

A aurora é miragem
O crepúsculo nada além de paisagem
Os segundos se esvaem,
Os dias se esvaem

A vida se esvai
É o tempo...
Descontínuo,
"Pois o tempo é tudo o que somos"


Caio Lopes
28.04.2011
00:07 hs

Um comentário:

  1. Como taxar de descontínuo o tempo, que tão rotineira e paulatinamente se esvai? Tempo descontínuo. Conceito extremamente interessante. Assim como os instantes únicos que se repetem. E a alma que não mais se atormenta. Se pertinente fosse, poderia repetir o poema todo, só para citar as partes que mais me encantaram. Só uma mente que vibra em uma freqüência diferenciada poderia traduzir em palavras tão certeiras idéias que talvez muitos tenham, mas que se perdem na escassez do vocabulário ou nas limitações impostas . Mas uma coisa é certa. O tempo que ser rende ao desejo dos seres não parece combinar com você. Nem uma alma serena. E se é o tormento que lhe inspira, a ele rendo minha homenagem, por ser a premissa que permite que agora eu possa ler algo tão belo e inquietante. Adriana

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